Se o bairro da Graça é já um local fascinante com os seus miradouros de perder o fôlego, as belas vilas operárias, o seu pitoresco e pessoas que o habitam, podemos dizer que, desde o ano passado, ficou ainda mais encantadora: um grupo de artistas coordenado pela associação EBANOCollective realizou várias intervenções artísticas em algumas paredes da área, homenageando figuras ilustres como Natália Correia, Sophia de Mello Breyner Andresen e Florbela Espanca.
Quem passeia pela Graça, encontra um bairro com poesia escondida em cada recanto, que vale a pena encontrar :
Beco do Forno do Tijolo
“Quando eu morrer voltarei para buscar / Os instantes que não vivi junto do mar” Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro sexto, 1962
Mural realizado por EBANOCollective com a colaboração de Giorgia Tono e Fabio Bianchi, 2014
Beco dos Peixinhos
“O grito da cigarra ergue a tarde a seu cimo e o perfume do orégão invade a felicidade. A omnipotência do sol rege a minha vida enquanto me recomeço em cada coisa. Por isso trouxe comigo o lírio da pequena praia. Ali se erguia intacta a coluna do primeiro dia – e vi o mar reflectido no seu primeiro espelho. Ingrina.
É esse o tempo a que regresso no perfume do orégão, no grito da cigarra, na omnipotência do sol. Os meus passos escutam o chão enquanto a alegria do encontro me desaltera e sacia. O meu reino é meu como um vestido que me serve.
E sobre a areia sobre a cal e sobre a pedra escrevo: nesta manhã eu recomeço o mundo.”
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Geografia, 1967
Mural realizado por EBANOCollective com a colaboração de Giorgia Tono e Fabio Bianchi, 2014
Rua Josefa de Óbidos
“De todas as mulheres que deixaram o seu nome no bairro da Graça, optei por representar de forma sóbria, a mulher que provavelmente marcou mais a infância das crianças, incluindo a minha, Sophia M. B. Andersen”.
EIME, Sophia
Travessa do Monte
“Este mural e o percurso literário começam na esquina com o poema “Ser Poeta” da Florbela Espanca que considerei ser um bom inicio para o percurso. Sabia que gostava de tentar retratar ou agarrar nas características físicas de cada poetisa mas respeitando a minha metodologia de trabalho que assenta na apropriação de uma mancha ou outras características do suporte. (…) O retrato da Natália Correia, aparece de seguida, fumando a sua célebre boquilha.”
Mariana Dias Coutinho, As Poetisas
Rua Natália Correia
“E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas…“
do poema: Frémito do meu corpo a procurar-te
e
“Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!”
do poema Árvores do Alentejo
Commentaires