Em meados do século VI, durante o domínio dos Suevos, um dos concilios de Lugo, fala de Salto, uma freguesia do actual concelho de Montalegre, tal qual a aldeia de Gralhas a que também hoje pertence. Seis séculos mais tarde, um manuscrito de 1145, dá igualmente noticia da existência do Arcediagado de Barroso!... Por volta de 1147, um documento existente no Arquivo Provincial de Orense, fala da fundação do Mosteiro de Santa Maria das Júnias próximo de Pitões, outra aldeia que integra hoje o mesmo municipio. Em 1208, uma Bula do Papa Inocêncio III, refere-se a Vilar de Perdizes e ao Couto de Dornelas, tempos em que Tourém recebeu foral concedido pelo já rei de Portugal D. Sancho I. Mas sobre a actual aldeia de Gralhas, situada algures na mesma região nem uma palavra. Sabe-se porém, que por ali existiram diversas comunidades, muito próximas do aglomerado que é hoje toda a àrea circundante da freguesia, e que essas comunidades se perdem na bruma dos tempos. Estamos a falar de comunidades que parecem ter habitado em zonas hoje denominadas por Castros, de que são exemplo o do Castelo do Romão a norte, numa das encostas da serra do Larouco; Soutelo a nascente, um monte situado algures a meio caminho entre as actuais aldeias de Gralhas e Santo André; e Ciada a sul, que ocupa uma zona entre as também actuais aldeias de Gralhas e Solveira. Porém, desses seus primitivos habitantes, da sua cultura, dos seus hábitos, das suas actividades de caçadores e pastores, designadamente durante os periodos do leptolítico e do mesolítico, pouco ou nada se sabe. O que se sabe isso sim, é que há cerca de 3000 anos, a cultura castreja, representada pelos Equésios, teve nesta região larga difusão e grande prosperidade, supondo-se que como consequência de uma epidemia que terá grassado pelos ditos Castros, as respectivas populações se tenham deslocado e refugiado para zonas mais abrigadas e hoje apelidadas de Calhelha do Lameiro, Bárrio e Cimo de Vila, as quais ali se concentraram e muito mais tarde por influência da civilização romana, se viriam a unificar e dar origem à actual aldeia de GRALHAS. O que se sabe também, é que por esta região passaram e deixaram marcas diversas civilizações, entre as quais, a Ibero-Céltica - cujos vestigios nos foram transmitidos pelas suas preocupações com o que alegadamente haverá para além da morte, e se traduziram na edificação de vários monumentos funerários existentes na região; a Romana, pelo “rasto” deixado da via Braga-Chaves, que há cerca de 2000 anos passava pela Ciada, o que prova inequivocamente, que os romanos chegaram a esta zona; e que durante a reconquista cristã da península, a área circundante do aglomerado hoje formado pela aldeia de Gralhas, tal como toda a região de Barroso, se manteve integrada na Galécia, uma provincia romana situada na esquina norte-ocidental da Peninsula Ibérica, correspondendo nos dias que correm, à actual Galiza e norte de Portugal dividida administrativamente em três Conventus: o Asturiense, o Lucense e o Bracarense, este último, onde as ditas comunidades se integravam.
De então para cá e para além do que já ficou dito, só a partir de 753 há noticia do rei Afonso I de Oviedo, genro de Pelágio, ter organizado uma grande expedição contra os Mouros, e para além de outras cidades lhes ter tomado toda a região de Barroso. Entre os anos de 868 e 1139, toda a região e obviamente Gralhas já com o actual figurino, fazem então parte do Condado Portucalense!... Um contado que surge ao longo de todo o processo de reconquista da Peninsula Ibérica pelos cristãos. É deste condado, que surge igualmente o nome do actual Portugal, depois de Afonso Henriques ter despojado do mesmo e á força, a sua mãe Teresa de Leão, filha bastarda de Afonso VI de Leão e que por morte do marido Henrique de Borgonha, se havia tomado de amores pelo galego Fernão Peres de Trava, hipotecando desse modo não só a herança do filho, fruto do casamento com Henrique, como também todas as regras que estiveram na origem da atribuição do Condado. Depois da criação do reino pelo Tratado de Zamora em 1143, apenas em 1258 quando das Inquirições, se volta a falar em Salto e a partir de então, a documentação é mais abundante. Mas sobre Gralhas, para além de alguma informação dispersa e na maioria dos casos proveniente da Galiza, o primeiro diploma legal que se conhece, é o foral concedido pelo rei D. Dinis, em 20-09-1310, ano de epidemias e muita fome na região, através do qual se ordenava a partilha das terras, o seu cultivo, o pagamento do dízimo a Deus e a proibição de atentar na parte ou no todo contra os usos e costumes da povoação. Com a dita carta de foral, foram ainda proíbidos todos os abusos que alguns fidalgos da «Cabeça das Terras de Barroso» sediados em Montalegre, exerciam sobre os aldeões, designadamente o uso da força que muitas vezes utilizavam para extorquir determinados bens de que necessitavam, bem como a sua aquisição sem as necessárias contrapartidas de pagamento.
Depois disso não se conhece qualquer outra referência à aldeia de Gralhas, sobre a qual aparecem novos dados, já no reinado de D. João III, quando este monarca determina através de carta datada de 17 de Julho de 1527 o recenseamento da freguesia. Tal recenseamento viria a ser feito três anos mais tarde, isto é, no ano de 1530, após nova insistência do rei, tendo estado a cargo, dos juízes de Montalegre, Pero Gil e João do Rego, dos tabeliães Lisuarte Gonçalves e Pero Álvares, do Alcaide João Pequeno e de 2 «homens bons» da aldeia, não identificados, os quais, antes de empreenderem tão importante tarefa, juraram aos Santos Evangelhos, que seriam diligentes e verdadeiros no desempenho daquela missão. O resultado do seu trabalho, cifrou-se no registo de 44 fogos. Após este, há apenas registo de dois novos census na freguesia. Um já em pleno século XIX, mais concretamente no ano de 1836, constando do mesmo o registo de 66 fogos, neles habitando 162 homens e 148 mulheres e o último em 2011 com a configuração que hoje se conhece da aldeia. Hoje, GRALHAS é uma aldeia igual a tantas outras do interior. Embora com muito bons acessos, encontra-se marcada por uma forte depauperação económica e um quase abandono das suas actividades tradicionais de outrora, designadamente no que diz respeito à agricultura e à criação de gado bovino, a que apenas vão resistindo alguns «teimosos» da terra. O aglomerado populacional está concentrado e organizado em diversos arruamentos. Caracteriza-a ainda, o imponente relevo que a envolve – a serra do Larouco. A paisagem à sua volta merece especial atenção, em particular os imponentes picos rochosos, como o Castelo do Romão, o Cabreiro, o Caldeirão, as Barreiras Brancas, o Corisco, e mais a sul a não menos importante Serra da Cepeda, hoje recheada de caminhos pedonais, que em conjunto formam autênticas barreiras naturais.
(Texto escrito segundo as antigas regras de ortografia)
de Domingos Chaves, para o blog Aldeia de Gralhas
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