...Foi então que decidimos meter-nos por carreiros e atalhos. É por caminhos in-descobertos que sempre nos surpreende a melhor fotografia. Os fotógrafos sabem-no!..
Prosseguimos assim junto ao um rio, apreciando suavemente o aroma da água doce. As folhas das árvores rodopiavam agradavelmente à nossa frente. E em simultâneo, o orvalho tombava na lentidão das margens saudando a nossa presença e a terra.
A certa altura vislumbramos uma carrinha a descarregar material de pesca. Pedi ao Carlos para parar. Saí do Jipe e fui-me aproximando de dois homens, aparentemente – Pai, filho e neto, que se encontravam junto a um barco.
Depois de alguns dedos de conversa, confirmaram-se as minhas suspeitas. Eram Pai, filho e neto, três gerações num barco. Preparavam-se para a pesca do robalo, ajeitando para o efeito, com alguma agitação, o seu barco avieiro.
Estava pasmo com a paisagem.
O que sobrava de um barco de grandes dimensões repousava ali, mais à frente, e mesmo ao lado como que, a decorar o rio.
Mais abaixo soltavam-se as amarras supostamente para mais uma pescaria. Enquanto isso, eu metia conversa e ía fotografando e ao mesmo tempo. Questionei onde haveria na zona locais de interesse para fotografar.
- Vão aqui ao lado à vila, com sorte encontram a minha tia. Com sorte ela mostra-vos o restaurante. Aquilo é giro ela às vezes faz lá comida para as pessoas. - respondeu-me o filho de certo modo entusiasmado.
Aguardei que os meus novos amigos partissem para a sua pescaria. Despedi-me deles com agrado, e lá fomos de novo, eu e o Carlos para novas descobertas.
Mais à frente entramos na vila de Caneiras. Uma vila com 100 metros de casas lacustres. Algumas infelizmente já bem degradadas e outras até devolutas.
Ao fundo, avistamos um casal, que aproveitando a sombra, descansavam num banco. Claro está que, disse logo ao Carlos - quando estivermos junto a eles, vou fotografa-los (lata tenho eu).
Dito e feito. Abri a janela e meti conversa com o bonito casal.
Por sinal bastante simpáticos. Entre uma pergunta e outra questionei-os se as casas eram mesmo em cima do rio. Ao que a resposta foi: - entrem e venham ver.
Demos por nós e já estávamos dentro da casa da Ti Lúcia e do Ti Fernando. A ouvir a suas historias, principalmente daquele aprazível local.
A Ti Lúcia contou-nos, que quando era pequena vivia com os pais, avieiros, pelo que correu o rio durante toda a sua meninice. Muitas vezes dormiam nas margens por causa das marés. Explicou-nos ainda, a origem dos avieiros, que surgiram vindos das praias de Vieira de Leiria, e que quando o mar ficava bravo, principalmente no inverno, obrigava-os a ir pescar para o rio. Por isso naquelas aldeias, as casas se sustinham sobre estacas.
Hoje na sua casa, fazem refeições sob encomenda para grupos de amigos, têm passado por lá políticos, futebolistas, malta da televisão e gente simples como nós – explicou-nos ela, com um ar simples mas brioso de si. Os nossos pratos são confeccionados com o peixe que nós mesmos pescamos, ‘’fataça na telha’’ ‘’sopa de peixe’’ entre muitos outros! - dito daquela forma aprazível, quase que almoçávamos outra vez.
Ainda ficamos a saber que, ambos já tinham tentado viver na cidade e que acabaram por regressar à paz da vila.
Entre o meio desta efusiva conversa, e uma mini a convite do Ti Fernando, falamos de bola de pesca, e além do mais, saboreamos o que uma sã e uma doce hospitalidade nos consagra.
No fim despedimo-nos com abraços e beijos, sentidos com exultação e com pena de não passar ali a tarde toda.
Aprecio quando me cruzo com gente genuína. Coisa tão rara nos tempos que correm.
- Combinem, venham cá e até podemos ir à pesca! Disse-nos ainda o Ti Fernando.
Ficou a saudade e a promessa de lá voltarmos…
Obrigado Ti Fernando e Ti Lúcia…
Fotos e Texto (revisto por Ana Maria Domingues) de Vitor Paiva
Aldeia de Caneiras
12-09-2015 Santarem
Mercie cher amie
Rédigé par : Vitor Paiva | 16/10/2015 à 09:53