"O Madeira Pura tenta trazer para Alfama o espírito do arquipélago descoberto por Gonçalves Zarco e Tristão Vaz. Rodrigo Nogueira foi a Alfama provar poncha.
Como é habitual em Alfama, não é raro ouvir fado a sair das colunas do Madeira Pura. Afinal de contas, naquele bairro não se pode fugir muito ao afamado género musical. Mas o bar é tudo menos um sítio tipicamente alfacinha. Pretende ser um bar madeirense, onde se bebem vários tipos de poncha, onde existem imagens turísticas da Madeira, chapéu típicos (também estão à venda) e alguma informação sobre a zona expostas na parede, onde se come bolo do caco e ainda há à venda todo o tipo de produtos de mercearia, desde doces a ginjas e licores, passando pela cerveja Coral e as bolachas Insular, típicas do arquipélago (também há uma vitrina com patés, doces, e outros produtos que não vêm da Madeira).
Não é à toa que, segundo Ilda Aleixo, uma das donas, “40% da clientela é madeirense”. Quer sejam jovens que estudam em Lisboa (incluindo alguns do ISPA, que é ali ao lado) quer seja gente mais velha. E, jura a própria, acham que a poncha sabe mesmo ao que deve saber. Talvez por ser “feita com aguardente vinda directamente da ilha”.
Aleixo, que mora na Sé e não tem nada a ver com a Madeira, abriu o bar com uma amiga, essa sim natural da zona, e esteve quatro meses à procura do espaço ideal. Encontrou uma antiga sede de uma transportadora que, como mostram fotografias do “antes”, não estava em grandes condições. Mas depois das obras, que mantiveram o que havia de bom (algumas bonitas paredes de pedra, um chão que esconde termas romanas e toda a estrutura pombalina) e renovaram o que lá havia, o bar está irreconhecível.
Durante a tarde e até às 11 da noite é a happy hour, com uma clientela que é “composta por muitos estrangeiros” (uma boa parte das frases numa das paredes onde os clientes são convidados a escrever está em línguas que não o português) e um ambiente relaxado, convidativo à leitura, estudo conversa, introspecção ou às famílias. A partir dessa hora nocturna fica tudo ligeiramente mais caro, menos a poncha (continua a ser 3€ o copo normal e 1€ o shot) e a comida (como o prego em bolo do caco, que é o prato no qual assentam os jantares aqui), e a animação toma conta do Madeira Pura. “Estamos sempre cheios às quintas, sextas e sábados”, diz Ilda Aleixo, que recebe quase todos os clientes com simpatia e prontidão. Existem também festas temáticas, dedicadas a uma cor (se alguém for de vermelho a segunda poncha é grátis, por exemplo).
Voltando ao fado, não é raro, segundo a dona, ver fadistas amigos saídos das casas de fado das redondezas (há até um poema sobre a poncha deixado por Nuno da Câmara Pereira numa das paredes) a cantar lá algumas noites, ou outros conhecidos pegarem numa guitarra e começarem a tocar (o espaço está insonorizado justamente por causa disso). Não é combinado, simplesmente acontece."
Madeira Pura. Rua Terreiro do Trigo, 72-74 (Alfama). Seg-Sáb 19.00-02.00.
(3) Photos de Maria-Yvonne Frutuoso©
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