“Souvenirs d’hier et d’aujourd’hui” foi o mote para uma iniciativa integradora de saberes e experiências, cujo objetivo era o entendimento de uma língua numa perspetiva muito mais alargada do que a simples aquisição de atos de fala e de regras gramaticais que, sem contexto, pouco ou nada dizem aos seus falantes. Numa região onde a emigração para países de língua francófona condiciona a vivência de famílias inteiras, de um país de onde se saía há cinquenta anos como se sai agora, à procura de uma vida melhor, a escolha do Francês como língua estrangeira, na escola, é tão natural como respirar. É ser uma extensão daqueles que estão lá longe, é ter na pronúncia de um “Salut” o laço que prende ao pai ou à mãe que lava vidros na “loge de concierge” ou que está sentada à secretária de uma qualquer multinacional. E as realidades luso-francófonas tocam-se. As palavras ganham outros sabores e outras tonalidades. E no verão, em plena aldeia, em plena praia, na exibição de novos estilos de vida, postiços ou genuínos, “voilà”, vamos lá pôr a “chôfage” e construir uma “maison”. E quem poderia representar melhor esta geração de emigrantes que a Ti Zefa, uma personagem única, descoberta pelo meus alunos depois de um trabalho conjunto de preparação da atividade que pretendia homenagear os seus avós, há muito tempo idos e depois regressados, e os seus pais, levados a cumprir, também eles, a diáspora, ainda agora. Foi amor à primeira vista! A Ti Zefa ali estava, tão verdadeira no seu português, quanto no seu francês tão próprio, tão a meio termo entre os dois. E a escola enlaçou as famílias dos nossos meninos que foram, há muito tempo e que voltaram ainda agora. A Ti Zefa já lá estva à espera a dizer “Bienvenue chez nous!”
Por Lidia Fernandes Costa, professora
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