"Ao meu avô chamavam-lhe de Toino Abel. Creio que Toino porque era António e Abel porque era seu pai. O filho de seu pai, o António do Abel. Já eu quando era criança chamava-lhe de Avô Careca. E porque este avô me foi tão querido lembrei-o nesta empresa.
Na verdade era o pai de minha avó que fazia cestas. José Custódio Barreiro, chamavam-lhe Zé Esteireiro. Agricultor, homem de negócios. Foi ele que começou a fazer aquelas que se tornaram as nossas cestas. Aqui, na minha aldeia.
Todo o fazer da cesta é manual. As artesãs cortam os fardos de junco com um machado, dividindo-os em pequenos fardos que são lavados, secos e branqueados numa arca de madeira onde arde enxofre. Daí o junco é escolhido um a um, fio a fio, e formam-se dois molhos. Os claros e os escuros. Os escuros vão a tingir, quando há tempo, processo este que na casa da D. Emília ainda se faz em panelas sobre uma fogueira a lenha. Só então acontece o trabalho no tear. Uma linha de linho passa por cada buraco do pente de tear e assim sempre até a teia ficar urdida. A Cidália benze-se antes de começar a tecer o junco. Ficam esteiras. Que é como quem diz tapeçarias. Antigamente faziam-se só brancas mas as moças tecedeiras, que eram muitas naquele tempo, começaram a competir entre elas, uma fazia um xadrez, a outra fazia lembrar rosas, e assim os lindíssimos padrões que encontramos hoje. A cesta típica tem três partes, três "tapeçarias", que cosidas formam a ceira e só depois é entrelaçada a asa de verga.
O fecho é feito a partir de pele de curtimento vegetal. Este método tradicional e artesanal usa os taninos vindos de cascas de árvores, raízes e folhas. Leva tempo e respeita a natureza.
Todo este processo corre o risco de acabar. Não há artesãos jovens que queiram aprender este trabalho e mesmo a apanha do junco no sul de Portugal, também ela perfeitamente manual, não encontra mãos novas. A Toino Abel quer contudo continuar esta nossa herança cultural. "
Atenciosamente,
Nuno Henriques
Découvrez les paniers Toino Abel sur le site bilingue portugais/anglais TOINO ABEL
Commentaires