"Casaram-se 820 pessoas homossexuais desde a entrada em vigor, há um ano, da lei que autoriza aqueles casamentos. As associações falam em homofobia de alguns oficiais de justiça, mas também do medo de os casais assumirem a relação.
A Lei nº9/2010 entrou em vigor a 5 de Junho de 2010 e dois dias depois os cartórios começavam a receber os primeiros noivos. Mas a euforia inicial abrandou já que, em média, casou-se apenas um casal por dia. De acordo com dados do ministério da Justiça, até 31 de Maio de 2011, realizaram-se 380 casamentos entre pessoas do mesmo sexo nas conservatórias portuguesas e outros 30 em consulados.
“Estes números não me surpreendem. Em Espanha, no ano em que se aprovou a lei casaram-se milhares de pessoas, em Portugal são apenas centenas. Mas nós ainda somos um pouco diferentes”, lamentou João Paulo, da Portugalgay.pt.
O receio de ser mal tratado no cartório, o medo de ser criticado pelos "vizinhos" ou mesmo discriminado no local de trabalho leva a que alguns casais nem sequer pensem em formalizar a sua união, contou à Lusa António Serzedelo, da Opus Gay.
“Claro que ainda existem muitos medos, algumas teias de aranha na cabeça das pessoas homossexuais que depois não correspondem à realidade. Ainda há muitas pessoas com medo de sair do armário, mas também existem cartórios onde a discriminação é real”, lamentou António Serzedelo.
João Paulo é da mesma opinião, lembrando que “não é por se mudar a lei que a sociedade vai mudar”.
E em algumas zonas do país as mudanças ainda são mais lentas, segundo António Serzeledo. “Portugal é um pais a dois tempos. Uma coisa são as cidades grandes e outra coisa é o interior, onde a homofobia é mais sentida”, garante.
Os números do ministério da Justiça confirmam esta perceção: de um total de 380 casamentos, realizaram-se 117 só na cidade de Lisboa e outros 36 no Porto e Vila Nova de Gaia. As cidades da zona metropolitana da capital, como Oeiras (15 casamentos), Almada (14), Cascais (11) e Setúbal (10), reúnem o grosso dos restantes casamentos.
Depois, existem muitos cartórios com apenas um e muitos mais onde não se chegou a realizar qualquer casamento no último ano.
Entre a comunidade gay, alguns destes espaços já estão referenciados como sendo pouco tolerantes à diferença. Mas também existem serviços que vão ficando conhecidos pelos bons motivos.
“Uma das coisas que tenho dado indicações é sobre cartórios onde sei que os oficiais de justiça são pessoas que não vão fazer má cara”, conta João Paulo, que se casou no ano passado, em Outubro.
O responsável pelo Portugalgay.pt já ouviu “relatos de pessoas que tiveram alguns problemas no cartório, mas depois tiveram muita sorte com a festa do casamento”. Serzedelo diz que “com a lei, nasceu um mercado pensado para estes casamentos”.
Os dois responsáveis garantem que as empresas que realizam o “copo de água” estão conscientes deste pequeno nicho de mercado e que nesta matéria as histórias dos casais têm tido um final feliz."
LUSA / SOL, 4 de Junho, 2011
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