Primavera
Poéma de Horácio Ernesto André – 1993
« A tela da primavera » foto de Catarina Paramos
Por não teres uma só rima,
tens duas, tens mais, quem me dera !
Começam por te dizer “Prima”
e acabam por te chamar «Vera».
Resnasce nos peitos a ternura,
volta a faina dos passarinhos.
Tuas manhãs são frescura
com que eles fazem seus ninhos.
Ir e voltar é a tua sina,
como do homem o destino,
só tu sabes ser a menina,
sem revelar teu desatino
Madrinha dos seres do Mundo,
és por excelência formosa
Tens um gosto tão profundo,
tal o perfume de mimosa.
Ao livro que quatro páginas tem,
das quatro tu és a mais bela
e de todas és tu também
a que a Natureza revela.
Verdura fresca é teu cariz
a claridade é tua cor;
Fazes alastrar uma raíz
que se diz ser o Amor.
Esvai-se contigo a tristeza,
e acaba a monotonia
Tuas cores trazem beleza,
dando ao Mundo a alegria
Regressa pela eternidade,
muito te quero admirar
Nunca temerei a idade
enquanto te puder contar.
Apesar de seres passagem,
teu passar não causa danos;
mas és unidade de contagem
com que se contam os anos.
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