Conforme a indicação no seu percurso, Armando Azevedo percorreu dois campos distintos, pintura e performance, quer nas suas participações colectivas, quer nas individuais. Estas participações são divididas pelas intervenções individuais e colectivas com o Grupo Puzzle e o Grupo Cores ou GICAPC (Grupo de Intervenção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra). O Grupo Puzzle é reconhecido pela sua imponência estética e pelos seus membros formados sobretudo pelas Belas Artes do Porto; o GICAPC tem uma intervenção menos formalista, embora com a mesma responsabilidade artística.
O interesse de Armando Azevedo pela performance surgiu em convergência com algumas experiências teatrais, mas sobretudo com as experiências que aconteciam no CAPC, um espaço onde se levava uma vida quase contínua e inteiramente performativa, ainda que não existisse essa consciência rotulada. O CAPC proporcionava aos seus membros momentos transformados em rituais, o que aconteceu com “a equipa de futebol”, diversos jogos “de adivinhação e magia”, “ceias” na cozinha transformada em bar, acesos “colóquios e debates” na sala de convívio, “festas”… A todas estas vivências, ainda que consideradas banais, era atribuído um carácter agora assumidamente performativo.
Na tentativa de melhor compreender a obra de Armando Azevedo, agrupamos a sua actividade performativa, também indicada pelos seus próprios apontamentos, em três campos ou secções: Colagem/Palavras; Cores; Corpo/Formas. Recordamos ainda que a sua prestação artística incidiu sobre duas áreas, pintura e performance, que se completam e até se confundem na intenção, o que nos leva a afirmar que não existe, em nenhum dos seus trabalhos, uma sem a outra. Contudo, será importante reforçar que esta análise não se encerra no que concerne aos agrupamentos que privilegia, o que pode ter várias outras formas de análise, mas à luz do que apontam os registos do próprio artista/performer, esta poderá ser com certeza uma ordenação esclarecedora de toda a sua produção artística. Para uma exposição mais eficaz, em cada campo de actuação (Colagem, Cores e Corpo), agrupamos em primeiro as performances ‘individuais’ e depois as ‘colectivas’, que serão auxiliadas, sempre que possível, por um texto do artista, entrevistas e fotografias.
Quanto à intenção das obras apresentadas, importa apontar como linha de leitura que Armando Azevedo, numa arte comprometida com o quotidiano em transformação, questiona continuadamente a condição humana. A procura da arethê (excelência) ou, mesmo, o homem enquanto «d’eus» é o seu objectivo primordial, mas nunca dispersando a classe a que pertence o ser humano, isto é, cada homem é composto pelo seu ‘eu’, o sujeito, e todos os outros são o ‘objecto’; mas só a junção dos vários ‘egos’ permite a verdadeira sintonia num mundo em transformação. Por sua vez, esse mesmo mundo é composto pelos pares bem/mal, verdade/mentira, pureza/poluição, ou seja, há sempre mais do que uma saída e cada uma é questionável, cabendo ao espectador analisar e avaliar a sua verdadeira identidade e prosseguir o seu percurso.
Na nossa opinião, este é o propósito das intervenções individuais e colectivas de Armando Azevedo, autor de uma vasta e significativa obra, ao afirmar‐se nos meios artísticos de relevo nacional e internacional. Podemos afirmar que a sociedade, nos
seus mais distintos aspectos (sociais, económicos, políticos, religiosos, profanos, ecológicos) é questionada em cada indivíduo justamente através da forma (corpo), da cor (brilho) ou palavra (significado).
Texto de SOUSA, Pedro Miguel Teixeira,
A Obra Performativa de Armando Azevedo (Volumes I e II), Coimbra, 2011 (Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, págs. 41 - 43, UC Biblioteca Geral – cotas: 10-(1)-6-24-27 Vol. 1; 10-(1)-6-24-28 Vol. 2; CD-A-2375).
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