UMA MÁSCARA TRANSPARENTE
(...) “O rosto é, também, a máscara, que se expõe duplamente e em simultâneo, em que a autora é, também, visada. Desta forma, este trabalho é diferente de qualquer outro que Balbina Mendes tenha realizado, porque não estamos, apenas, perante uma exposição sobre um tema, inclusive frequente na sua carreira. Não estamos, sobretudo, perante uma exposição etnográfica sobre o Planalto Mirandês. Estamos perante as provas de um enorme desafio, o de se responder objetivamente a uma leitura e interação com um assunto tão denso e tão pessoal, tornando-se voyeur de si e do seu território físico e simbólico, invadindo, expondo e desmontando o que lhe foi dado a preservar. Percebe-se, então, que tudo se torna visceral e filosófico, ultrapassando a estética e a investigação em curso. Percebe-se, ainda, que o caminho já não passa pela simplicidade formal de nos colocarmos por detrás de qualquer máscara, como muitas das suas personagens anteriores, mas de colocar o Rosto ao nível da Máscara, e da Máscara ao nível do Rosto.
(...) Por momentos, as obras parecem aludir ao mistério existente por trás da máscara dos participantes das Festas dos Rapazes ou dos caretos, mas, paralelamente, expulsam-nos para lá do espelho, enviando-nos para o nosso próprio rosto, obrigando-nos a colocar a máscara ou convidando a que a tiremos.
Doravante, estamos perante o dilema com que a autora se deparou: o de perceber até onde somos capazes de analisar as nossas próprias origens e as forças que elas possuem. E se seremos capazes de, como a autora o faz, confrontar essa herança, estudá-la e com ela interagir. Correndo o risco de perceber que quanto mais se ambiciona descobrir mais expostos nos vamos sentindo e, como tal, mais humildes e desprotegidos. Ficamos, então, sem possibilidade de distinguir o rosto e a máscara, pois são exatamente o mesmo.
Fica, então, a questão, salientando o imenso esforço a que tamanha tarefa obrigou a autora, com sucesso: - Seremos nós, também, capazes de o fazer?”
Domingos Loureiro
Investigador i2ADS, Professor Auxiliar na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
Balbina Mendes nasceu em 1955, em Malhadas, Miranda do Douro.
Mestrado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Vive e trabalha em Vila Nova de Gaia.
Realizou diversas exposições individuais em Portugal, Espanha, Bélgica, Áustria, EUA, Austrália e Índia.
Participou em inúmeras exposições coletivas.
Está representada em várias coleções públicas e privadas em Portugal e no estrangeiro.
O Rosto e a Máscara, Exposição de Balbina Mendes que está patente ao público no Palacete dos Viscondes de Balsemão, no Porto, até ao dia 26 de Maio
Une peinture que je connais bien et qui transmet ce Portugal d'hier et de demain, tout en valorisant le présent...Et au delà de la peinture et la technique originale de la transparence, le reflet d'une tradition propre d'une région, mais en même temps, transversale à plusieurs civilisations...Bravo de la mettre en valeur et, qui sait, d'inciter ainsi à une prochaine expo à Paris!?!
Rédigé par : Emmanuelle AFONSO | 07/05/2018 à 14:43