A proposito da Catarina Eufêmia (tinha um ano quando a Catarina foi abatida).
Quando tinha 11 ou 12 anos, logo a seguir ao exame da quarta classe, tal como a Catarina, também fui trabalhar para o Alentejo, 9 mêses.
Não sei quanto ganhei, sei que só fui pago ao fim dos 9 mêses. Além do ordenado, tínhamos direito todas as semanas a uns kg de farinha, azeite e um pedaço de carne gorda (toucinho).
Era um homem com uma carroça, puchada por um burro, que passava trazer esses bens alimentares.
Eramos mais ou menos duas duzias de pessoas da minha terra, das quais faziam parte 5 rapazes (chamavam-nos os russos, nunca soube porquê). O homem da carroça, deixava também um pipito de vinho branco para vender, a cargo do manangeiro.
Dormíamos todos dentro do mesmo barracão em cima duns estrados.
As mulheres num canto e os rapazes no outro. O pipo estava depositado no chão ao pé da nossa tarimba/estrado, não sei qual de nós, mas um arranjou uma pequena mangueira, maleável e à noite quando se apagavam as luzes, um de cada vez aspiravamos o vinho do pipo.
As nossas tarefas, além do mesmo trabalho que as mulheres, era sair do "quartel" cedo para irmos à água e acender o lume no local onde íamos trabalhar. Com chuva ou sol, era todos os dias o mesmo ritual.
Cada um possuia a sua panela e havia uma cozinheira que preparava as refeições.
Basicamente a cozinheira punha as panelas ao lume e vigiava que não faltasse agua.
Comiamos todos os dias no local de trabalho, não havia mêsas nem bancos, cada um se desenrascava. Era realmente tempo de miséria.
Quando regressei à minha terra, logo arranjei outro trabalho na pedreira.
Não tendo pai, a minha mãe deixou-me entregue a um primo e veio para Paris tentar uma vida melhor.
Andei na pedreira quase 3 anos, nos últimos tempos ganhava 30$00 por dia. Isto em princípios de 1969.
Em maio de 1969, quando a minha mãe ja tinha a vida um pouco organizada, vim para Paris, para evitar a guerra colonial e o regime Salazarista.
So a partir daqui de Paris é que comecei a compreender um pouco do mundo em que vivia .
Foi nessa altura que soube a tragédia que se tinha passado em 1954 em Baleizão.
Assim se passou uma parte da minha vida. Além destes momentos vividos, posso dizer que não tenho nenhum ressentimento a não ser com o regime Salazarista.
O que muito me magoa hoje é quando ouço pessoas dizer que no tempo do Salazar é que se estava bem.
Texte de José Da Silva Rey, janvier 2018
pour le blog Aldeia De Gralhas
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