Há cerca de 4 anos, adoptei o Mel, o Mel Gibson. Um gato resgatado da rua e que tinha já sido adoptado uma vez mas logo de seguida abandonado. Nunca tinha tido gatos/as. Sempre adorei conviver com animais, sempre tive cães mas nunca tinha tido gatos/as. Por nenhum motivo em particular mas a verdade é essa.
Também nunca tinha pensado na realidade da existência/convivência numa, neste caso, cidade dos/as cães/cadelas e nos/as gatos/as de rua/silvestres, vulgo “de rua”.
Foi quando adoptei o Mel e, por volta da mesma altura, quando comecei a praticar o hobby da fotografia mais assiduamente, o que me fez percorrer a pé muito mais da minha cidade, de nascença e vivência, de Coimbra, que fui tomando consciência de haver uma realidade de gatos/as de rua na minha cidade.
E ao mesmo tempo que tomava consciência desta realidade mais eu tomava também consciência deste novo sentimento que comecei a ter, a de realmente dar mais atenção aos/às gatos/as, esse animal tão diferente daquele a que eu estava acostumado, o cão, e que tanta curiosidade me começou a despertar e que nunca mais parou de o fazer.
Tem sido um misto de emoções, forte. Por um lado, a relação que desenvolvi com o Mel tem sido incrivelmente intensa, de um companheirismo que nunca imaginei ter com um animal. Por outro lado, o ganhar da percepção que os/as gatos/as, em geral, nada têm que ver com aquela ideia que querem dar deles/as, a de serem distantes, frios/as, “maus/más”, e em particular os/as gatos/as de rua que são ainda mais distantes, ariscos/as e fugidios/as. Nada disso, são, “apenas”, carentes, muito carentes. Como é, aliás, qualquer outro animal, e em última análise, pessoa, que se veja, se encontre só e sozinha.
Aprendi muito não só com os/as gatos/as mas também com as pessoas que gostam de gatos/as e sobretudo com as pessoas que tratam dos/as gatos/as de rua. E quando digo tratam, digo não só dar comida mas também cuidar/tratar deles/as, nomeadamente levando-os/as ao veterinário, esterilizando-os/as, dando-lhes medicação ou, simplesmente, fazendo-lhes uns minutos de companhia. E, neste ponto, tenho que salientar o trabalho incessante e permanente do grupo “Gatos Urbanos”, uma associação inédita em Coimbra que há cerca de 5 anos iniciou a sua actividade e que tem tido níveis de eficácia e sucesso acima da média. Pena é que a autarquia de Coimbra não dê o apoio necessário e desejável, aliás retirou mesmo esse apoio há cerca de 3 anos, e que, assim, não contribua para esta necessária melhor relação da cidade com os/as animais de rua.
No fundo, está nas mãos de todos/as nós toda esta dinâmica: percebermos melhor onde vivemos, com quem vivemos e convivemos e o que queremos do meio e da comunidade em que nos envolvemos.
Témoignage et photos de Francisco Soares de Olviveira (Coimbra)
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