Situada na zona da raia correspondente ao concelho de Montalegre em Trás-os-Montes, a Serra do Larouco faz parte do complexo montanhoso da Peneda-Gerês e é a terceira maior elevação de Portugal, atingindo os 1527 metros de altitude no seu cume. Num planalto granítico que se estende por 10 quilómetros, a Serra de Larouco apresenta uma paisagem que nos oferece a atmosfera escarpada de Trás-os-Montes pintada pela presença de matos de giesta e a icónica urze transmontana juntamente com zonas de pastagem e a presença de carvalhos, pinheiros, castanheiros e vidoeiros, criando zonas de arvoredo que nos remetem ao Minho, reflectindo a sua localização entre os dois mundos. Esta pitoresca paisagem é habitada por aves de rapina, lobos ibéricos, corços, raposas, javalis e por uma notável presença de répteis como lagartos e cobras. Nas zonas de maior concentração de matos de giesta e urze fica-se com a sensação de haver um chilrear permanente de serpentes escondidas por entre a vegetação, lembrando-nos que o território nacional em tempos ancestrais era apelidado de Ofiussa, a terra das serpentes.
De facto, há sítios que insistem em reavivar a nossa memória para o passado ancestral de Portugal. Logo no seu nome, a Serra do Larouco remete-nos para o deus galaico Larouco, um deus do trovão, da metalurgia e da fertilidade. De facto, quando subimos ao alto da Serra do Larouco e contemplamos as paisagens correspondentes às terras Barrosãs, ao Gerês, Peneda, Ourigo, Soajo e Cabreira, todas elas parecem pontos mais baixos perante o Deus Larouco, que todas vigiava na sua imponência trovejante. Uma das dádivas de Larouco, era ainda a da medicina, justificando a sua ligação à serra, visto que nesta se dizem encontrar plantas terapêuticas nas suas zonas mais elevadas. Em diversas zonas e povoações em redor da Serra do Larouco encontramos vestígios da antiga adoração ao deus e ao substrato cultural galaico do povo transmontano, como o Altar de Pena Escrita, dedicado a Larouco, em que este é comparado ao Júpiter romano, e povoações icónicas como Montalegre, Gralhas e Vilar de Perdizes, casa do Padre Fontes, um “druida” moderno que em muito tem contribuído para o cultivar da etnografia transmontana, e que inclusive, descobriu uma representação do deus Larouco na Igreja de Vilar de Perdizes.
A Serra do Larouco é, além de uma bonita serra, um atestado ao passado galaico que une transmontanos e galegos. Tradicionalmente, e até há pouco tempo, os jovens das zonas circundantes dos dois lados da raia, tanto de aldeias portuguesas como galegas, uniam-se no cimo da serra para a festa ao “Deus Larouco”, em celebração de uma cultura que em tempos ancestrais, nos quais não existiam fronteiras, pertencia a um mesmo povo.
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Photos de Maria Yvonne Frutuoso
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