A crise e a desertificação não abala a auto-estima e alegria de viver de três mulheres da aldeia de Bairradas, concelho de Figueiró dos Vinhos, acostumadas a tempos infinitamente piores. Só lamentam não ter já a saúde para trabalhar como o faziam dantes: «Quem quer não pode, quem pode não quer».
Nuno Ferreira para Café Porugal
"Laura Simões nasceu ali na aldeia das Bairradas há quase 100 anos. Para sustentar os quatro filhos, ia de manhã apanhar areia ao Rio Zêzere que entregava para as obras. «Íamos descalças pelo mato, ainda dizem que a vida está má».
Idalina, 75 anos, filha de Laura, recorda também os barrotes de madeira na cabeça que acartavam aos cinco e seis até à aldeia. Naquele tempo, as ruas em terra batida pontilhadas aqui e ali de estrume dos animais. Cada um colocava mato e troços de milho em frente à porta de casa e tratava de limpar os pés descalços antes de entrar.
Idalina, 75 anos, filha de Laura, recorda também os barrotes de madeira na cabeça que acartavam aos cinco e seis até à aldeia. Naquele tempo, as ruas em terra batida pontilhadas aqui e ali de estrume dos animais. Cada um colocava mato e troços de milho em frente à porta de casa e tratava de limpar os pés descalços antes de entrar.
Os homens iam muitas vezes para fora trabalhar e as mulheres buliam em tudo o que permitisse sobreviver: batata, milho, feijão...acartando estrume, madeira, areia. «Tudo que se vê agora abandonado era semeado. Vivia-se do trabalho e não havia a comida que há agora».
Há 55 anos, conta a vizinha Maria Silva Paiva, «estava mal e criei a minha filha sozinha. Agora têm tudo e dão tudo, eu não tive nadinha, nadinha. Reclamam de barriga cheia». A filha perguntava: «Minha mãe o que é que eu como?». Maria respondia: «Come pão e queijo».
Há 55 anos, conta a vizinha Maria Silva Paiva, «estava mal e criei a minha filha sozinha. Agora têm tudo e dão tudo, eu não tive nadinha, nadinha. Reclamam de barriga cheia». A filha perguntava: «Minha mãe o que é que eu como?». Maria respondia: «Come pão e queijo».
O pai matava dois porcos por ano. A carne ia para a salgadeira. Compravam «umas pinguitas ao sábado» que tinha de dar para a semana inteira, cozíamos broa ou quando esta terminava pediam à vizinha. «Era uma vida pobre mas “alegreta”», sorri Maria Silva Paiva, que ainda foi um ano a pé até Tomar à apanha da azeitona.
«Nos anos seguintes já fomos de camioneta. Os nossos bancos eram os caixotes. Levávamos farinha de milho, carolo para fazer papas, pendurávamos lá uma caldeira de ferro. Os de Alpiarça riam da gente. Dormíamos numa tarimba de madeira. A apanha da azeitona durava três meses, a vindima um. A minha irmã mais velha ainda foi à monda para perto de Lisboa, eu nunca fui».
«Nos anos seguintes já fomos de camioneta. Os nossos bancos eram os caixotes. Levávamos farinha de milho, carolo para fazer papas, pendurávamos lá uma caldeira de ferro. Os de Alpiarça riam da gente. Dormíamos numa tarimba de madeira. A apanha da azeitona durava três meses, a vindima um. A minha irmã mais velha ainda foi à monda para perto de Lisboa, eu nunca fui».
Nas vindimas em Alpiarça tinham à sua frente, todos os dias, longas «carreiras» de vinhas. Trabalhavam como os homens, cavavam como os homens, andavam com os burros e se se atrasavam mais tarde na colheita, ainda ouviam: «Isto está tudo mal, continuas assim voltas a fazer tudo de novo».
Laura não quer abandonar a casa em xisto onde viveu toda a vida e recebe apoio de Idalina e de outra filha. «Uma semana é uma, outra semana outra». A casa em xisto é um hino aos tempos duríssimos de outrora. «Tinha uma cozinha funda e assentos à volta, uma corrente e uma panela de ferro. A luz era a candeia de azeite e petróleo. O lavatório ainda lá está».
A maioria das gentes das Bairradas foram viver para Lisboa, França, Suíça, Coimbra, Brasil, espalhados um pouco por todo o lado. De quando a quando, Laura pergunta a Idalina: «Olha, para onde é que foi o pessoal?».
Idalina, que nunca deixa de sorrir apesar dos inúmeros problemas de saúde que não é necessário especificar aqui, desabafa acerca da desertificação da aldeia e do abandono dos campos: «Quem quer não pode (já estamos velhos), quem pode não quer».
Laura não quer abandonar a casa em xisto onde viveu toda a vida e recebe apoio de Idalina e de outra filha. «Uma semana é uma, outra semana outra». A casa em xisto é um hino aos tempos duríssimos de outrora. «Tinha uma cozinha funda e assentos à volta, uma corrente e uma panela de ferro. A luz era a candeia de azeite e petróleo. O lavatório ainda lá está».
A maioria das gentes das Bairradas foram viver para Lisboa, França, Suíça, Coimbra, Brasil, espalhados um pouco por todo o lado. De quando a quando, Laura pergunta a Idalina: «Olha, para onde é que foi o pessoal?».
Idalina, que nunca deixa de sorrir apesar dos inúmeros problemas de saúde que não é necessário especificar aqui, desabafa acerca da desertificação da aldeia e do abandono dos campos: «Quem quer não pode (já estamos velhos), quem pode não quer».
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