Ilustração de Pérez Sa
"É insuportável querer-te assim mas é impossível não te querer assim.
E tudo consome quando se precisa tão apertado, quando se percebe que todas as lutas são possíveis menos a que me opõe ao que te gosto. Todos os sonhos sabem a pouco quando não te sonho dentro deles.
O que é a felicidade senão aquilo que nos acontece quando estamos juntos?
... Quero tanto um abraço como quero não querer um abraço.
E abraço-te. Com todo o desespero de uma precisada, uma mera dependente de continuar contigo, e é tão triste ter de ser tão tua como é arrebatador estar no miolo dos teus braços.
Falta-nos tanto e basta um abraço para termos tudo.
Todo o poder se desfaz em beijos.
“Quero adormecer na imortalidade dos teus lábios”, digo-te, e o teu sorriso diz-me que te estás nas tintas para as palavras, e a tua boca aberta à procura de me arruinar diz-me que só me queres pelo que te dou.
Mas o que é amar senão ser viciado no que quem amamos nos dá?
Só quem precisa do irrecomendável merece existir.
O que ninguém acredita que exista é o que vale pelo que existimos, e a realidade é uma sucessão de enfados até encontrares o que te descalça e te deixa confortável. Quando me pedirem para definir vida vou dizer “tolos”, e eu e tu sabemos que apenas a tolice prova que a felicidade existe.
Antes dois tolos a voar que um certinho no chão.
À volta há amores regulares, amores que se estabilizam, amores que se tornam sólidos a cada dia de concessão. Mas entre nós não há concessões. Entre nós há uma batalha sem restrições que envolve, muitas vezes, choques frontais. E tantas vezes sem qualquer roupa a cobrir-nos o corpo.
A parte boa de estar em guerra contigo é saber que mesmo quando perco saímos a ganhar.
Porque estamos os dois em trincheiras diferentes mas ainda assim do mesmo lado. Tu queres amar-me à tua maneira, eu quero amar-te à minha. Mas ambos queremos que este amor continue.
E o que é a vida senão lutar todos os dias para que o amor continue?
São tão estúpidas, as pessoas que não são estúpidas.
E não percebem que até a rotina pode ser excitante, que todos os dias existem para que o imprevisível aconteça, para que algo nos deixe de coração nas mãos. E sustêm. Guardam desejos para mais tarde, fantasias para depois, revoltas para até nunca. E é assim que se vão adiando à espera do dia da felicidade marcada, do momento da libertação agendada. Mas a felicidade pode ser tudo mas nunca pode ser agendada. Se é uma felicidade agendada não passa de uma pessegada, de uma imensa chachada. Porque só o que nos tira o ar nos enche o peito, e criar novas maneiras de te amar é a homenagem que diariamente te faço.
É para a ingenuidade que me levanto todos os dias. E noventa por cento da felicidade é ingenuidade e os outros dez são ignorância.
Antes todos os dias inocente do que para sempre culpada.
Pedro Chagas Freitas "
E tudo consome quando se precisa tão apertado, quando se percebe que todas as lutas são possíveis menos a que me opõe ao que te gosto. Todos os sonhos sabem a pouco quando não te sonho dentro deles.
O que é a felicidade senão aquilo que nos acontece quando estamos juntos?
... Quero tanto um abraço como quero não querer um abraço.
E abraço-te. Com todo o desespero de uma precisada, uma mera dependente de continuar contigo, e é tão triste ter de ser tão tua como é arrebatador estar no miolo dos teus braços.
Falta-nos tanto e basta um abraço para termos tudo.
Todo o poder se desfaz em beijos.
“Quero adormecer na imortalidade dos teus lábios”, digo-te, e o teu sorriso diz-me que te estás nas tintas para as palavras, e a tua boca aberta à procura de me arruinar diz-me que só me queres pelo que te dou.
Mas o que é amar senão ser viciado no que quem amamos nos dá?
Só quem precisa do irrecomendável merece existir.
O que ninguém acredita que exista é o que vale pelo que existimos, e a realidade é uma sucessão de enfados até encontrares o que te descalça e te deixa confortável. Quando me pedirem para definir vida vou dizer “tolos”, e eu e tu sabemos que apenas a tolice prova que a felicidade existe.
Antes dois tolos a voar que um certinho no chão.
À volta há amores regulares, amores que se estabilizam, amores que se tornam sólidos a cada dia de concessão. Mas entre nós não há concessões. Entre nós há uma batalha sem restrições que envolve, muitas vezes, choques frontais. E tantas vezes sem qualquer roupa a cobrir-nos o corpo.
A parte boa de estar em guerra contigo é saber que mesmo quando perco saímos a ganhar.
Porque estamos os dois em trincheiras diferentes mas ainda assim do mesmo lado. Tu queres amar-me à tua maneira, eu quero amar-te à minha. Mas ambos queremos que este amor continue.
E o que é a vida senão lutar todos os dias para que o amor continue?
São tão estúpidas, as pessoas que não são estúpidas.
E não percebem que até a rotina pode ser excitante, que todos os dias existem para que o imprevisível aconteça, para que algo nos deixe de coração nas mãos. E sustêm. Guardam desejos para mais tarde, fantasias para depois, revoltas para até nunca. E é assim que se vão adiando à espera do dia da felicidade marcada, do momento da libertação agendada. Mas a felicidade pode ser tudo mas nunca pode ser agendada. Se é uma felicidade agendada não passa de uma pessegada, de uma imensa chachada. Porque só o que nos tira o ar nos enche o peito, e criar novas maneiras de te amar é a homenagem que diariamente te faço.
É para a ingenuidade que me levanto todos os dias. E noventa por cento da felicidade é ingenuidade e os outros dez são ignorância.
Antes todos os dias inocente do que para sempre culpada.
Pedro Chagas Freitas "
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