Foto tirada do site http://cancelas.blogs.sapo.pt/
"As «segadas», as «malhadas», os «carretos», as «vezeiras», os «motes», o cantar dos «reis», as «chegas de bois», entre outros, são exemplos de misturas exóticas entre o religioso e o pagão, que evocaram no passado os deuses, em favor de colheitas fartas e que é preciso não deixar esquecer.
O comunitarismo tradicional, resultou assim, da necessidade de conjugar esforços, para mais facilmente se atingirem os fins desejados. E não apenas em termos laborais, ou de preparação de festas. O povo de Gralhas, impunha igualmente as suas regras, através do seu «Conselho Dominical», reunido aos domingos após a respectiva Eucaristia. Aí, onde eram transmitidas as «ordes» (ordens), aprovavam-se posturas, para garantir o respeito pelos bens e direitos comuns e pela propriedade privada, para permitir ou não, a seiva dos gados nos terrenos abertos que estavam de restolho, para arrendar os baldios, as côrtes e os palheiros, para impôr a realização de determinados trabalhos, para restaurar, limpar e pôr em funcionamento as infra-estruturas para uso da comunidade, designadamente, caminhos, represas, forno do povo, moinhos, lama-do-boi, igreja, cemitério, poças e regos-da-água entre outras.
Toda a gente era solidária. Com a mesma facilidade, com que cumpriam as regras, pediam e emprestavam o fermento, o pão, a ferramenta, o burro ou a junta de vacas. Pediam e davam apoio na «segada», na «carrada», no «meter do feno», na «arranca da batata», na «matança do porco» ou na feitura do fumeiro; socorriam os vizinhos na hora da «desgraça», do incêncio, da inundação, das geadas que tudo queimavam e da doença de pessoas e animais, ao mesmo tempo, que com eles choravam, nos momentos de luto e de desastre."
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