Revestida de um humor depurado, ao alcance apenas daqueles que conhecem de cor os matizes das dores que se enclausuram nos espaços da modernidade, a obra de Alberto Vieira oferece-nos um universo pleno de vida que nasce do seu contrário. Nela, a mutabilidade humana emerge como que subliminarmente, emoldurada em geometrias e matérias aparentemente simples, para depois se cumprir, em espanto, no denominador comum da Arte – a comoção. As composições de Alberto Vieira despertam a mais poderosa arma e a mais frágil quimera da existência: o sorriso. Quem sorri, fá-lo porque o corpo o pede, e se o corpo o pede, há que obedecer sem grande filosofia. Quem se rende ao sorriso, sabe ter encontrado aquele instante que define a eternidade. Como poucos, Alberto Vieira faz-nos sorrir porque somos tristes.
Alberto Vieira esculpe como quem poetiza. As pontas dos dedos estão lá, numa erudição de espírito maior do que a que figura nos compêndios que podem ser decorados. O seu trabalho tem o mérito de nos fazer rir do atroz, do doloroso, daquilo de que todos fogem. E fá-lo também porque nos transporta vezes sem conta à génese, àquele tempo em que éramos crianças e os baloiços não eram mais do que baloiços, em que o amanhã era uma coisa distante, a perder de vista, em que o amanhã não era.
Na sua obra, desvendam-se os nexos que o quotidiano não permite senão entrever, como se de um lençol de mar se tratasse. Sabemos que há peixes que nadam alheios sob esse lençol, e cores nunca suspeitadas fora dos sonhos. Mas vivemos em cima, onde, de lá, só se pode supor. Ao autor cabe a fábula, ao leitor a moral. Simples (aparentemente, como convém ao Belo), límpido, como o são todas as conclusões das viagens múltiplas da alma.
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